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O Conto

Água, Ouro do Século XXI

Era Outono. O sol brilhava radiosamente e aquecia, como é próprio do Verão de São Martinho.

Maria do Mar, uma menina de nove anos, e o seu irmão Oceano, de oito, viviam no Porto e vieram passar férias a casa dos avós maternos, em Várzea de Abrunhais. Eles adoravam fazer aventuras nos campos e nas matas cheias de folhas secas e coloridas. Gostavam de as apanhar e secá-las para fazerem um herbário.

Um dia, os dois irmãos foram passear ao pinhal, apanhar caruma para a fogueira do magusto e, de repente, viram uma casa que parecia abandonada. De dentro saía um ruído estranho! Talvez o barulho de água a cair de uma torneira…

Os dois irmãos entraram, viram uma torneira a verter água e tentaram fechá-la. O esforço foi em vão (a torneira estava velha) e ainda começou a verter mais água.

Os meninos, aflitos, correram até casa a contar o sucedido. Logo, o avô Artur foi ver o que se passava. Ficou muito aflito por não conseguir fechar a torneira e esta verter cada vez mais.

Eram tempos de seca e a água era “preciosa” – não se podia desperdiçar! Por este motivo, a avó Maria, ajudada pelos netos, colocou um grande balde debaixo da torneira, aproveitando a água que dela caía. Entretanto, o avô Artur foi até Britiande chamar um canalizador, o senhor Armando.

Quando o senhor Armando chegou viu que a torneira tinha que ser mudada.

Neste momento, entra uma senhora idosa e de aspecto muito pobre carregando um cesto cheio de lenha.

– O que fazem na minha humilde e pequena casa? – perguntou a senhora.

– Desculpe, pensámos que a casa estava abandonada! – respondeu a Maria do Mar muito admirada.

A velha senhora explicou que ocupou aquela casa pois não tinha onde morar e andava de terra em terra.

O avô Artur contou porque motivo estavam todos lá em casa.

– A nossa professora ensina-nos a poupar água. Ela diz que qualquer dia o nosso planeta pode ficar sem água potável e então será impossível haver vida na Terra. – disse Oceano.

Como a senhora não tinha dinheiro para pagar ao canalizador, o avô Artur ofereceu a torneira nova para se poder poupar a água que era tão protegida pelos seus netos. A pobre velhota agradeceu-lhes muito e ofereceu-lhes algumas das poucas castanhas que tinha.

No dia seguinte, mais uma aventura na vida destes dois irmãos. Os avós levaram‑nos a Cepões. Lá, alguns amigos deles iam fazer um magusto e o avô queria aproveitar para mostrar aos netos aquela bonita aldeia.

Maria do Mar e Oceano divertiam-se muito com os avós e nem sabiam da surpresa que estes estavam a preparar-lhes…

Nesse dia o avô disse-lhes:

– Esta noite vão dormir a casa dos vossos primos, na Galvâ, porque de manhã, bem cedinho, vamos fazer uma viagem.

– Vamos viajar para onde, avô? – perguntou Oceano.

– É uma surpresa, por isso, só amanhã vos digo.

Em casa dos primos, Vânia e Rui, o assunto foi sempre a “viagem surpresa”.

Às 7:30 horas ouviu-se a voz da avó Maria:

– Toca a levantar meninos, está na hora!

Maria do Mar, Oceano, Vânia e Rui, levantam-se com um brilho nos olhos, questionando-se sobre o que seria a surpresa.

A avó Maria e o avô Artur já estavam prontos com a cesta da merenda.

– É essa a surpresa? – perguntaram eles.

Os avós sorriram e não responderam.

– Vamos rápido para não perdermos o autocarro. – disse o avô.

Maria do Mar e Oceano iam admirados com a bela paisagem do Douro.

– Chegámos! Estamos na Régua. – disse o avô.

– E a surpresa, avô?

O avô, sorrindo, encaminhou-os para o cais.

Ao descerem as escadas, repararam que estavam ali algumas crianças e adultos que conversavam e riam alegremente. Nisto…

– Avô, avó! Olhem que barco tão grande está a subir o rio! – gritaram os netos.

Os avós entreolharam-se com ar cúmplice e sorriram.

Maria do Mar, Oceano, Vânia e Rui exclamaram ansiosos:

– Afinal, a tal “viagem surpresa” é uma viagem de barco?!

– É verdade, quisemos proporcionar-vos um passeio de barco. Vamos subir o rio Douro até ao Pinhão. – responderam os avós.

– Que maravilha! – comentaram entusiasticamente as crianças, abraçando os avós.

À medida que o barco se aproximava ainda lhes parecia maior.

– É enorme! – disseram Vânia e Rui, que nunca tinham estado tão perto de um barco daquele tamanho.

– Tem dois andares e chama-se “Douro Azul”. – meteram conversa dois meninos que estavam ali perto.

Maria do Mar e Oceano chegaram-se mais ao grupo e perguntaram:

– De onde sois e como vos chamais?

– Nós somos de Lalim. Eu sou o Pedro e ela é a Susana.

– Prazer em vos conhecer! – responderam todos, apresentando-se também.

– Os nossos pais trouxeram-nos aqui para andarmos de barco. A nossa professora disse-nos que era um passeio muito bonito e que iríamos ver muitas coisas interessantes.

Ao subirmos o rio até ao Pinhão vamos passar pela barragem de Bagaúste, que é muito importante para a produção de energia eléctrica. – comentou a Susana.

– É verdade! – afirmou Maria do Mar. A minha professora também já nos explicou isso. Ela diz que a força motriz da água é tão forte que faz girar as turbinas com tanta força que elas produzem electricidade.

– Olhem, estão a ver aquele barco tão engraçado, no meio do rio, cheio de pipas? – questionou o Pedro. É um barco Rabelo, que antigamente servia para transportar pelo rio o famoso Vinho do Porto, que se fabricava aqui na Régua, nos armazéns da Casa do Douro, até às cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia, onde era armazenado, para depois ser vendido, principalmente aos Ingleses.

O avô Artur continuou:

– O Rio Douro era uma importante via de comunicação. Ultimamente, esta via fluvial é utilizada por barcos de recreio, que trazem muitos turistas, principalmente estrangeiros, que vêm visitar esta lindíssima Região Duriense. O Rio Douro é agora navegável desde a sua foz até Barca d’Alva, graças às inúmeras barragens que nele foram construídas.

Nisto, o “Douro Azul” chega ao cais…

Entraram para o barco e iniciaram a viagem rio acima. O barco já trazia muitos turistas estrangeiros. Ao aproximarem-se da Barragem de Bagaúste, a Susana perguntou:

– Como vamos conseguir passar para o outro lado?!

O avô da Maria do Mar e do Oceano explicou que o barco ia entrar numa espécie de tanque, a água começaria a subir até ficar com a mesma altura que está do outro lado da barragem, era uma eclusa. E, assim, o barco continuou a sua viagem até ao Pinhão.

Apreciando a paisagem, Maria do Mar e Oceano estavam admirados com a quantidade de vinhas ao longo do rio, que mais pareciam uma grande escadaria, que subia do rio até ao cimo dos montes, como se fosse um santuário.

Ao lado, a Susana conversava com o Pedro sobre o que seria mais importante: o oceano ou o mar. O avô lembrou-lhes que se estavam a esquecer dos rios.

Ainda sem chegarem a uma conclusão, o barco atracou no cais do Pinhão.

Aí, os irmãos, os avós e os primos encontraram um grupo de meninos de Lazarim, que tinham chegado de autocarro para descer o rio Douro. Como existia no cais um parque infantil, as crianças misturaram-se umas com as outras e, durante algum tempo, brincaram entusiasmadas nos escorregas e nos balouços. A certa altura, a Maria do Mar escorregou e esmurrou o cotovelo e, aflita, correu para o rio para lavar a ferida, que sangrava. A Débora e a Andreia, de Lazarim, ao verem aquilo, exclamaram:

– Cuidado! A água pode estar poluída e podes ganhar uma infecção! … Lava, antes, com a água da minha garrafa. Ao mesmo tempo, as duas amigas de Lazarim olharam uma para a outra e disseram:

– Como seria bom, neste momento, estarmos na nossa terra, junto ao nosso Varozela! Aí, sim, podias lavar a tua ferida, pois a água que nele corre é límpida e cristalina. Se assim não fosse, não teríamos o prazer de saborear as deliciosas trutas que nele se criam.

Em jeito de convite, a Débora e a Andreia disseram ao avô, à avó e a todos os outros:

– Visitem a nossa Vila! Vão a Lazarim e matem a sede com a água fresca das nossas fontes!

Admirados, Maria do Mar e Oceano exclamaram:

– Continuai a proteger a vossa água, que é ouro! Estareis, assim, a contribuir para o bem de todos.

Aproveitando a oportunidade, o avô Artur retomou a conversa que tinha ficado por acabar, sobre o que seria mais importante: o oceano, o mar ou os rios, abordando o problema actual que a todos preocupa: a poluição da água.

Nesse dia quente, estava Rosalina, menina da escola de Mós, a contemplar o Rio Douro pela primeira vez. Ao ver os colegas de Lazarim, aproximou-se, ouviu o avô Artur e exclamou:

– Os rios devem ser mais importantes, porque a água não é salgada e, por isso, podemos utilizá-la para beber.

O Rui, espantado com a afirmação da sua colega Rosalina, explicou:

– A água dos rios não se pode beber nem utilizar antes de ser tratada, porque tem micróbios causados pelo lixo que todos fazemos. É preciso reduzir o lixo e colocá-lo nos recipientes próprios para que possa ser reciclado.

– Sabes que um sexto da população mundial não tem água potável para beber?

– Não sabia! – respondeu a Cátia.

– Isso é um problema muito grave e todos nós temos de ajudar.

– Vou alertar os meus pais e os meus vizinhos para que deixem de usar produtos químicos, porque se infiltram no solo e vão ter aos rios, aos mares e aos oceanos.

O Severino, aluno de Vila Meã, que estava com a Cátia, ouviu atentamente tudo que foi dito. No dia seguinte, na escola, pediu à professora para falar de um assunto muito importante. Alertou toda a turma para a não utilização de produtos químicos na agricultura, pois estes poluem a água existente no solo.

A Bárbara, cujo pai trabalha nas Águas de Trás-os-Montes, referiu que a água pode ser contaminada de muitas maneiras: pela acumulação de lixos e detritos junto de fontes, poços e cursos de água; pelos esgotos domésticos que aldeias, vilas e cidades lançam nos rios ou nos mares; pelos resíduos tóxicos que algumas fábricas lançam nos rios; pela lavagem não autorizada de barcos no alto mar, que largam combustível…

Então, todos os alunos concordaram que a água é um recurso natural fundamental ao planeta Terra e que, por isso, é dever de todos nós não a poluir, poupá-la e protegê-la, pois ela é o OURO DO SÉCULO XXI.

 

 

 

 

Composição realizada colectivamente pelos alunos dos 3.º e 4.º anos das EB1 do Agrupamento Vertical de Escolas da Sé (EB1 de Várzea de Abrunhais, EB1 de Britiande, EB1 de Cepões; EB1 da Galvã, EB1 de Lalim, EB1 de Lamego n.º 2, EB1 de Lazarim, EB1 de Mós e EB1 de Vila Meã), no ano lectivo 2008-2009.
https://blogs.ess-edu.pt/aguaouro

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